Friday, December 29, 2006

A LUTA RACIAL E A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

RESUMO
Este trabalho investiga a visão da autora afro-americana Alice Walker dentro de sua obra “The Color Purple” em relação à violência contra a mulher negra e o incesto.
Palavras - chave: Violência física. Psicológica. Sexual. Incesto.

A questão da pesquisa histórica tem muita importância para a luta racial contemporânea contra a violência feminina, desta forma pode-se detectar dentro da sociedade a evolução da luta de mulheres contra este terrível mal. E nós, acadêmicos e intelectuais, precisamos resgatar essa luta contemporânea por justiça. A perspectiva comparatista e interdisciplinar deste trabalho, que incorpora os ensinamentos das teorias sobre gênero, etnia e os estudos culturais, têm como base a obra da afro-americana Alice Walker e outras autoras do Black Arts Movement (BAM).
O objetivo é detectar analogias e semelhanças, entre a obra de Walker e de outras autoras afro-americanas que tratam do mesmo tema. Pretende-se também ressaltar as diferenças analisando alguns aspectos da literatura contemporânea afro-americana.
A violência contra a mulher e o incesto são temas que devem ser tratados com muita precaução uma vez que em nosso país muitas mulheres sofrem abuso sexual de seus próprios companheiros além da violência física e psicológica. Espera-se com este artigo conscientizar não somente as mulheres negras, mas todas as mulheres que sofrem este tipo de abuso. Dessa forma pretende-se que estas mulheres tomem consciência e que fiquem atentas as situações de violência a que são submetidas e devem procurar ajuda quando necessário.
No livro “The Color Purple” Walker (1982) aborda como tema central a violência contra a mulher negra e o incesto (união sexual ilícita entre parentes consangüíneos, afins ou adotivos). O que também pode ser observado na obra de Toni Morrison, 1970, “The Bluest Eye”, que traz situações de dominação na qual a mulher negra está exposta desde a infância, exatamente como ocorre na obra de Walker.
Em uma entrevista a agência de noticias “Carta Maior” (28.08.2006) Morrison desabafa: “Alguns aspectos da integração eram incômodos para as pessoas da classe social mais baixa, da qual eu própria faço parte, com muito orgulho”, afirmou Morrison. “As escolas dos negros eram ruins, tinham goteiras. Mesmo assim me senti confusa, mais tarde, quando pude sentar ao lado de uma menina branca, na mesma classe. Não achava, sinceramente, que aquilo fosse por si mesmo um privilégio. No começo, ficava confusa com a idéia de escolas integradas. Não entendia o propósito de me sentar ao lado de uma menina branca. Depois acabei entendendo que o que eles queriam era redistribuir dinheiro. As escolas negras eram piores, decadentes, abandonadas”.
Walker também é negra e de uma família pobre de agricultores, ela aborda através da literatura estratégias de luta diferentes das de outros escritores negros, abraçando causas culturais, sociais, ambientais e feministas.
Pode-se questionar então porque Walker enfatiza tanto em sua obra “The Color Purple” a violência contra a mulher negra?
Ela admira o esforço de mulheres negras durante toda a história para manter a espiritualidade e a criatividade essenciais em suas vidas. Walker assim como outras autoras afro-americanas (Nikki Giovanni, Sonia Sanchez), fala de mulheres sempre muito oprimidas, mas não vencidas, e tocam em temas recorrentes, como amor, abuso sexual, memórias, raça e violência principalmente contra as mulheres.
Os efeitos de raça, gênero e classe se fazem evidentes na interpretação de sua célebre obra “The Color Purple”. Os elementos criativos afirmativos e subversivos expressos em sua obra são formas de resistência destinadas a combater o racismo e o sexismo. Suas escritas relatam os esforços de povos negros durante toda a história, fazendo uma ponte entre o texto e o contexto em que vivem e produzem as escritoras afro-americanas.
Muitas questões podem ser consideradas, mas devemos levar em conta que Walker não concordava com os ideais do BAM. Este movimento tentou criar uma teoria literária negra, que resultou em uma necessária crítica tanto da literatura afro-americana quanto do mundo literário branco que já se estabelecera, porém na tentativa de tomar o poder, tal movimento passou a ser muito semelhante aos seus oponentes, tornando-se monolítico e repressivo, ideais estes que Walker não concordava.
Walker era sensível ao monolitismo, já que um elemento principal das ideologias de dominação, tais como o sexismo e o racismo, é a desumanização das pessoas através de estereótipos, negando-lhes diversidade e complexidade. O BAM foi capaz de fazer isso por algum tempo devido aos movimentos políticos da época. As mulheres do BAM (Sonia Sanches, Nikki Giovanni, Adrienne Kennedy) causaram um impacto grande não somente no movimento, mas também no trabalho de escritores contemporâneos de hoje.
Walker ficou famosa nos circulos literários internacionais pela publicação dos primeiros romances sobre a mutilação genital feminina. Muitos críticos literários a considerão uma das principais percusoras da ocidentalização deste tema, que foi inicialmente romanceada em seu livro “The Color Perple”, publicado em 1982 e cinematizado por Steven Spielberg em 1983.
Em seu livro “The Color Purple” Walker conta a estória de Celie - uma menina negra que vive com sua família, o pai adotivo uma irmã mais nova (Nettie) e outras crianças, em uma área rural da Geórgia, nos Estados Unidos, no início do século XX.
Ela é violentada pelo pai, de quem tem dois filhos, um menino e uma menina. Entretanto, assim que eles nascem, são entregues a um casal de missionários que não pode ter filhos.
Celie escreve cartas ao seu Deus e em muitas delas pede ajuda para compreender o que acontece com ela, “Dear God, I am fourteen years old. I have always been a good girl. Maybe you can give me a sign letting me know what is happening to me (p.3)”.
Aos catorze anos, Celie é dada em casamento a um viúvo da comunidade que precisa de alguém para cuidar de sua casa e de seus três filhos. Ela é humilhada pelo marido e por seus filhos, como era por seu pai.
O marido às vezes usa da violência física contra ela e assim, quando o enteado (Harpo) pergunta-lhe o que deve fazer com sua esposa insolente (Sofia), Celie responde: “Beat her (p.35)”. Evidenciando assim, como ela é tratada por seu marido.
Na comunidade em que Celie, vive a violência marca a relação entre homens e mulheres. Os homens acreditam que só conseguem ser respeitados pelas mulheres se baterem nelas. Albert ensinou ao filho que “Wives is like children. You have to let’ em know who got the upper hand. Nothing can do that better than a good sound beating. (p.34)”.
Assim, a violência física não só é tolerada, como ensinada e estimulada como forma de controlar o comportamento das mulheres. A ela se junta a violência psicológica praticada não apenas contra as mulheres individualmente, mas também coletivamente. Em um acesso de raiva contra Celie, Albert verbalizou a maneira como as mulheres são vistas na comunidade: “You black, you poor, you ugly, you a woman, you nothing at all (p.176 )”. O marido deixa claro que não tem nenhum afeto por Celie, pois na realidade pretendia casar-se com sua irmã, mas o pai recusou-se a dar-lhe sua mão e ofereceu Celie em seu lugar. Entretanto, o maior símbolo de sua humilhação é também sua grande chance de rendição: um dia Albert traz sua amante (Sugar), que estava doente, para morar com a família. No início, ela também trata Celie como uma serviçal, mas elas passam a ser amigas.
uma obra . afro-americanos: de Charles Chesnutt no século XIX, passando por Richard Wright nos anos 1930, por Leroy Jones (Baraka) nos anos 1960, e chegando a Alice Walker nos anos 1970 (que discordava dos principais ideais do BAM), estão envolvidos no movimento das artes negras de onde se originaram os Black Studies, o movimento literário feminista e os estudos da mulher, que provinham de reflexões que estas mulheres negras elaboraram sobre suas próprias vidas.
Muitas destas mulheres sofreram com a violência doméstica e principalmente a violência pública. Toni Morrison (Em entrevista a agência Carta Maior, 28.08.2006) afirma: “Somos vistas como um povo depreciado...” fazendo referência ao descaso do abuso contra mulheres negras em seu país.
CONCLUSÃO
Conclui-se que a violência contra as mulheres negras no início do século XX era tida como uma forma de controle dos homens sobre as mulheres. Percebe-se também que a violência física, psicológica e sexual está mais presente na classe social mais baixa.
Walker descreve em sua obra “The Color Purple” a forma como as mulheres eram tratadas e todo tipo de violência as quais eram submetidas. Através de sua obra ela promove a discussão entre diferentes fronteiras do saber, das letras à sociologia, articula o debate entre literatura e realidade, tendo como ponto de interseção a negritude e a escrita de mulheres.
Nos textos investigados, embora tendo como cenário situações culturais diversas, as personagens são mulheres muito sós que vivem a tripla discriminação, ou seja, o "fardo" de serem mulheres, negras e, especialmente no caso de Celie, pobre.
Cada autora adota, através da literatura, estratégias diferentes de luta, abraçando causas políticas, culturais, sociais ou feministas. O que as une, em suas trajetórias próprias, é a discussão e valorização da mulher dentro da sociedade com a utilização da arte da palavra - uma contribuição para a literatura universal, para o movimento feminista e para a luta dos direitos humanos.
O maior desafio é estabelecer a relação entre a violência física, sexual e psicológica. Durante muitos anos, o lema foi a “unidade negra” ou talvez o que tem sido chamado de “solidariedade racial” entre homens e mulheres negras. Mas freqüentemente o silêncio das mulheres negras frente a violência tem prejudicado muito suas próprias vidas.
Proteger seu companheiro de responder publicamente por sua atitude sempre argumentando que “roupa suja se lava em casa”, é a melhor forma de se permitir a continuidade da violência. Sabe-se que a violência de um parceiro sobre uma mulher é tão ruim quanto à violência policial.
Espera-se com este artigo que outras mulheres usem a arte do escrever para conscientizar homens e mulheres da necessidade de respeitar o outro, e valorizar a mulher como ser humano, mesmo que sejam: mulheres, negras e pobres.
REFERÊNCIAS
INKPIN, Sally. Estudos Contemporâneos da Literatura América. Modulo, 2006
WALKER, Alice. The Color Purple

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