“... when I had slept off the fumes of the night's debauch -I experienced
a sentiment half of horror, half of remorse, for the crime of which I had been
guilty; but it was, at best, a feeble and equivocal feeling, and the soul
remained untouched.”
Para
fazer a análise desse conto é necessário estar atento às variedades de símbolos
e imagens utilizadas pelo autor. A história é relatada por um narrador/
personagem, plenamente consciente de sua deterioração mental, e em alguns
pontos da história ele reconhece a mudança que está ocorrendo dentro dele, e
ele tenta fazer algo a respeito, sente vergonha, mas ele encontra-se incapaz de
sair de sua loucura.
“For
my own part, I soon found a dislike to it arising within me. This was just the
reverse of what I had anticipated; but I know not how or why it was --its
evident fondness for myself rather disgusted and annoyed. By slow degrees,
these feelings of disgust and annoyance rose into the bitterness of hatred. I
avoided the creature; a certain sense of shame, and the remembrance of my
former deed of cruelty, preventing me from physically abusing it.”
É uma narrativa considerada
fantástica pelo uso de símbolos baseados no folclore, com uma linguagem
figurada que anuncia o sobrenatural, e sua amplidão permite uma exploração mais
extensa dos temas da violência, ódio, e culpa o que pode ser observado no
trecho abaixo.
“...I took from my
waistcoat-pocket a pen-knife, opened it, grasped the poor beast by the throat,
and deliberately cut one of its eyes from the socket! I blush, I burn, I shudder, while I pen the
damnable atrocity.”
O místico também pode ser observado no nome do gato (Pluto) , em sua cor (preto) e
por assim dizer, no próprio animal. A cor preta nos remete ao mundo das trevas,
e o nome Pluto (deus do inferno) denota a anormalidade do narrador. Em muitas
tradições o animal é tido como servidor do inferno, simbolizando a fatalidade,
e possui qualidades mágicas, pois vê espíritos e tem sete vidas. A semântica
intui-nos a perceber os acontecimentos fantásticos e fornece diversas
contribuições, produzindo medo, espanto, terror e suspense, criando um universo
particular e macabro. O narrador utiliza um excesso, que é o ponto comum que
causa surpresa, pânico e desespero.
É
uma leitura prazerosa, a qual o leitor se envolve com o relato, cria-se um
mundo de emoção. O principal efeito que o narrador/personagem quer atingir no
leitor é uma sensação de absoluta perversidade.
“One morning, in cool
blood, I slipped a noose about its neck and hung it to the limb of a tree;...”
A história gira em torno de um homem
de coração bom e que amava os animais. Com o tempo e devido ao excesso de
álcool, ele se torna amargo e cruel. Ele tinha um gato preto chamado Pluto que
era o seu preferido dentre todos os animais que possuía. Pluto era um gato extraordinariamente grande e belo, todo negro e de
espantosa sagacidade. Um dia tomado pelo ódio, causado por uma mordida de
Pluto, ele arranca-lhe um dos olhos e poucos dias depois o enforca em uma
árvore no jardim. Percebe-se então uma aversão do narrador/personagem ao animal, que após assassiná-lo, é
surpreendido por um incêndio e seu pensamento se direciona ao gato que havia
enforcado.
“On the night of the day on which this cruel deed was done, I was
aroused from sleep by the cry of fire. The curtains of my bed were in flames.
The whole house was blazing. It was with great difficulty that my wife, a
servant, and myself, made our escape from the conflagration. The destruction
was complete. My entire worldly wealth was swallowed up, and I resigned myself
thenceforward to despair...”
“...When I first beheld this apparition --for I could scarcely regard
it as less --my wonder and my terror were extreme. But at length reflection
came to my aid. The cat, I remembered, had been hung in a
garden adjacent to the house...”
Fica
evidente que muitos atos do narrador/personagem são sem lógica ou motivação,
onde se pode observar toda a sua perversidade.
Em
relação aos elementos estruturadores do conto, temos um narrador auto crítico coexistindo
em dois espaços: o objetivo e o subjetivo. O narrador descreve rapidamente o
espaço objetivo entrando, em seguida no subjetivo. Na história, a casa e o
quintal são os lugares das experiências sobrenaturais, do perigo e da perda.
Quando consegue transpor os limites do mundo exterior, o narrador entra em
outro, formado por sua memória, retrospectiva, recuperando várias cenas em
"flashback”. O que pode ser
observado nos trechos abaixo.
“... I am above the weakness of seeking to establish a sequence of
cause and effect, between the disaster and the atrocity. But I am detailing a
chain of facts --and wish not to leave even a possible link imperfect...”
“... When I first beheld this apparition
--for I could scarcely regard it as less --my wonder and my terror were
extreme. But at length reflection came to my aid. The cat, I remembered, had
been hung in a garden adjacent to the house. Upon the alarm of fire, this
garden had been immediately filled by the crowd --by some one of whom the
animal must have been cut from the tree and thrown, through an open window,
into my chamber. This had probably been done with the view of arousing me from
sleep. The falling of other walls had compressed the victim of my cruelty into
the substance of the freshly-spread plaster; the lime of which, had then with
the flames, and the ammonia from the carcass, accomplished the portraiture as I
saw it.”
Os
fatos relatados, segundo sua percepção, interferirão nas descrições do
ambiente, mudando a sua natureza, visto que o mundo exterior cessa de ter uma
realidade plena. No porão, o narrador/personagem enfrenta seu próprio terror, sentimento
desenvolvido por sua loucura. Nesse lugar, o macabro mistura-se ao real, e
evidencia a ambigüidade. Essa indecisão, objetivo versus subjetivo,
intensifica, ainda mais, a angústia do personagem que prevê os futuros acontecimentos.
O narrador/personagem vivencia fatos
particulares, que possuem espaço e tempo próprios, os quais se interligam,
contribuindo para a progressão do
personagem tanto espacial como temporalmente. A evolução temporal se acelera no
momento da descoberta do segundo gato.
O
monólogo do personagem contribui para romper a linearidade do tempo, pois é ele
quem manipula os lapsos temporais, conforme as necessidades da evolução da
história Esse “flashback” se faz continuamente, conforme sua memória. Mescla o
passado remoto, empregando o pretérito perfeito, com o presente da narrativa. Esse
resgate memorial permite ao narrador personagem vivenciar novamente os fatos que o levaram a
sua transformação, simultaneamente, defrontando-se com sua insanidade.
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